Coronavírus: mulher com máscara na Maré, no Rio de Janeiro (Fabio Teixeira/Reuters)

Medidas anormais para tempos anormais

Por Nelson Marconi, economista e professor da FGV.

Vários economistas já falaram isso, mas é preciso frisar. Vamos ter um colapso da saúde pública e da demanda no futuro próximo. O governo estava, até o início desta semana, defendendo o mantra da necessidade de reformas para solucionar a crise causada por esse vírus. Uma parte da equipe econômica acordou e tomou medidas muito tímidas. 

A saúde pública colapsará. O comércio travará, assim como parte dos serviços, e posteriormente a indústria, pois não haverá demanda para nenhum deles (a não ser pelos produtos básicos). Permitir a redução da folha de pagamentos, como fez o governo, além de ser socialmente injusto neste momento, não evitará as demissões após um ou dois meses. 

A solução para uma crise dessas requer uma combinação de muitos instrumentos. A necessidade de recursos será elevadíssima: para comprar material hospitalar, ampliar a capacidade de atendimento, salvar as pessoas que não têm acesso à água ou saneamento…e para fazer transferências diretas de dinheiro, exato, dinheiro, às pessoas para complementar a renda. Isso só será possível se o Banco Central emitir moeda e comprar títulos do Tesouro que possibilitem a ampliação dos gastos desse último. Isso requer que neste momento a última preocupação nossa seja com os problemas causados pela evolução das despesas, mesmo porque a dívida será liquidada posteriormente entre “primos” – o Banco Central e o Tesouro.

Além disso, O BNDES terá que criar linha de crédito específica para o setor de saúde. Os demais bancos públicos também precisam ampliar a oferta de crédito e a juros menores. Também é necessário identificar os setores que mais vão sofrer e adotar medidas específicas para salvá-los, injetando recursos, além de garantir o abastecimento de produtos essenciais. O investimento em infraestrutura, principalmente em saneamento, precisa ser recuperado, mas como ele não ocorre tão rapidamente assim, no curto prazo precisaremos de outras medidas para salvar vidas. 

Esse conjunto de ações requer coordenação interna e com o setor privado, determinação e um governo competente e compenetrado nestas questões. Não parece ser o caso. E tudo isso agravado pela desindustrialização das últimas décadas, que não nos permite responder rapidamente à necessidade de fornecimento de equipamentos e materiais médicos, por exemplo. 

Vamos torcer para que os governadores e os outros Poderes atuem de forma conjunta nesse processo, pressionando o Poder Executivo a tomar as medidas necessárias. Não haverá outra solução neste momento, porque o presidente já se mostrou absolutamente despreparado, inconsequente e irresponsável. 

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